domingo, 31 de julho de 2011

ASSIM SOMOS NÓS



Ritmo
Cadência
Fluxo
Respeito
Asas
Confiar
Querer
Ser
Voar
Rir
Chorar
Transcender
Calar
Ouvir
Dizer
Viver
Navegar
Céu
Terra
Alma
Mar
Mulher
Homem
Amigos
Amantes
Ir
Viajar
Sentir
Voltar
Isso tudo
E muito mais
Simples assim
Somos nós




Ana Mascarenhas – 31/07/2011

sábado, 30 de julho de 2011

ABRAÇADOS AO INFINITO



Teu braço me abraça
Rumo ao infinito
O mar que nos banha
Bocas que secam
Olhares que inundam
A madrugada que chega
O descanso que vem
O desejo que desperta
No dia que nasce
A mão que afaga
A hora que passa
O beijo que cala
No fundo de mim
O riso que afrouxa
O choro que excita
O barco que segue
Eu em ti
Tu em mim
É hora de ir
Queremos ficar
Abraçados
Ao que a plenitude sussurra
E ao pulsar que nos une
O mundo nos chama lá fora
Nos despedimos sem caos
Coração em paz
Tu em mim
Eu em ti
E em nós dois
As ondas do infinito
Reverberando
A imensidão das certezas
De nossas insaciáveis vontades

 
Ana Mascarenhas – 30/07/2011











domingo, 24 de julho de 2011

 A manhã não me sugeriu
As palavras que procurei
Abri a porta
Escancarei as janelas
Pensando que talvez me chegassem com o sol
Mas não vieram
Talvez a noite traga pra mim
As palavras que procurei nas calçadas
Enquanto andava devagar
Pela cidade
O dia me olhava de soslaio
Como se quisesse me dizer algo
Pensamentos ganhando o céu
Palavras mudas
Palavras que espero que a alma sopre
Pra traduzir
Meus devaneios
Palavras que se reviram
E se escondem
Nas esquinas do dia
A tarde se aquieta
A noite chega calada
Sem lua
Nem estrelas
Nem ventos
Mas traz com ela
Um mistério
Uma nuance de ternura
Que me abraça
Em silêncio
E revela
Todas as palavras
Que o dia
Em vão
Tentou me esconder



Ana Mascarenhas - 24/07/11





segunda-feira, 18 de julho de 2011

METÁFORA




Abre tuas asas e voa
Sobre as coisas
Que te mantém vivo
Voa sobre tudo que te inspira
Sobre tudo que te move
Abre tuas asas
E voa o mais alto que puderes
Toca a lua e as estrelas
Desvia das nuvens densas e dos raios
Voa sobre as montanhas
E sobre as cachoeiras
Observa as nascentes
E canta livre
Junto com os outros pássaros
Abre tuas asas e sobrevoa
Outros mundos
Outras bocas
Outros becos
Abre tuas asas e voa sobre as estradas
Sobre os trilhos
Sobrevoa as pontes
E os atalhos
Não te desvia nunca das coisas em que acreditas
Voa sobre as curvas
E sobrevoa as tempestades
Quando te aproximares do solo
Vem e me beija a boca
E ao dares rasantes sobre o mar
Não deixa de crivar meus olhos
Que já sentem saudade dos teus




Ana Mascarenhas – 18/07/2011





domingo, 17 de julho de 2011

A OUTRA


Não gosto dessa inquietude que me ronda
Nos dias que antecedem minha menstruação
Sinto um desconforto na alma
Parece que fico desconectada
Das coisas que acredito
Não me reconheço
Não gosto dessa pessoa na qual me transformo nesses dias
Sinto-me como se estivesse
Na corda bamba
Tudo se transforma num caos
Minha leveza fica comprometida
Minhas certezas viram dúvidas
Algumas leituras não caem bem
Ausências comuns tornam-se rascantes
O sono fica leve
As madrugadas duram uma eternidade
As intuições brotam de todos os cantos
Os sentimentos ficam confusos
As verdades doem
O peito fica apertado
Sinto saudade de mim
Quero sangrar
Meu ventre dói
Minha paz voltou
Está tudo bem
Sou eu outra vez
Ela já foi embora
Eu sangrei



Ana Mascarenhas – 17/07/2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

ALÍVIO

 

Algumas coisas repousam
E pulsam em paz
Já outras
Seguem em tempestade
Esmorecer não está nos meus planos
Porém meus pés não tocam o chão
Minhas mãos seguram o nada
Minha voz ecoa no abismo
Não encontro o caminho
Meu peito fica apertado
Falta-me o ar
Sinto medo
Quero respirar
Sentar-me a porta no fim do dia
Com a sensação de que
Fiz o que tinha que ser feito
Que dei conta de mais um dia
E que minha luta não foi em vão
Que minha casa estará bem
E que ao anoitecer a luz estará acesa
Que meu filho estará logo ali em seu quarto
Meus cachorros abanando o rabo
As paredes pintadas de branco
Portas e janelas de madeira
Pátio com canteiros floridos
Um foguinho pra amenizar o frio
Um bom ventilador pros dias de calor
A bagunça de sempre
Que não chega a causar
Grandes transtornos
A gaveta de contas pagas cheia
A gaveta de contas a pagar vazia
Cortinas de chita nas janelas
Panos claros sobre os sofás
Almofadas de fuxico
Tapete de retalho no chão da sala
Música e poesia na alma
Incensos diversos
Bons filmes
Meus amigos
Algum abraço
Alma leve
Coração em paz
Um brinco novo
Vinho tinto no inverno
Gin tônica no verão
Um violão
Um bom tom
Uma risada
Uma brisa
Uma canção
Um alívio
Um ar
A cada dia acordar
E começar outra vez
Com a certeza
Que a dignidade
Estará sobre a mesa
E em todos os cantos
Da minha casa
E das coisas tantas
Que cercam a minha vida
E assim, só assim
Aliviar de vez




Ana Mascarenhas – 13/07/2011


sábado, 9 de julho de 2011

NOS BRAÇOS DA PAZ


Ele sabe quem sou
E o que sinto
Confiança plena
Nenhuma energia obscura
Nos afasta
Nem mesmo os ruídos incessantes de outras vozes
Dizendo-nos que é mentira
Nada que não seja verdadeiro
Atravessa o tempo
Nós sabemos o que somos
Onde estamos
E o que queremos
As coisas que não queremos
Abstraímos de nossos dias
Estamos em paz
Lendo nossa história
 Nossas mãos
Nossos olhos
Nossas bocas
E nossas almas
Tocam-se devagar
Não, não temos nenhuma pressa
Não queremos desvendar tudo
Temos todo o mar a nossa frente
Gostamos do mar
Apreciamos suas manias
Conquistamos o nosso jeito de navegar
Sagrado e sem redomas
Neste mar, somos só nós dois
E nada nem ninguém
Que não sejamos nós mesmos
Nos fará voltar
Deste mar de paz
Que o que somos
Nos traz







Ana Mascarenhas – 09/07/2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Elas e EU


Enlouqueçam
Ameacem
Desesperem-se
Telefonem
Gritem
Implorem
Acorrentem
Enjaulem
Esbravejem
Sufoquem
Acovardem-se
Fraquejem
Congelem
Humilhem-se
Invejem
Adoeçam
Percam
Enquanto isso eu
Vôo
Amo
Liberto
Abraço
Sinto
Cresço
Navego
Flutuo
Ouço
Calo
Digo
Repouso
Aqueço
Enrosco
Confio
Reverbero
Canto
Tempero
Incandesço
Quero
E tenho
E sequer precisei
De correntes
Ou jogos
Ou gaiolas
Eu apenas sorri
E lhe dei asas
E ele, simplesmente veio

Ana Mascarenhas – 07/07/11


domingo, 3 de julho de 2011

NO MEU ENCALÇO, O MAR

 

Não havia nenhuma certeza
Nem mesmo a mais remota possibilidade
Eu até então, doente de solidão
Buscava incessantemente uma paz
Que não se busca
Minha vida agonizava
Enquanto eu ia sucumbindo na minha
Ansiedade doentia
Meus dias não conheciam muito a leveza
O navio estava pesado
Navegava com dificuldade
Eu era um emaranhado de expectativas
Frustrações, amarguras
Decepções e todas essas coisas
Que inevitavelmente adoecem e cegam as pessoas
Atribuía aos outros minhas agonias
Não enxergava que era em mim que estava a causa
De todas as dores
E era apenas isso que faltava pra navegar sem medo
Pela rota da vida
Foi então que algo em mim apaziguou
A venda desprendeu-se dos meus olhos
E tudo foi ficando cristalino
Fui enxergando as pontes ao invés dos muros
Tive alguma ajuda por certo
Mas algo se desvendara em mim
E meu espelho já não era mais tão assustador
Era o discernimento que me chegava
Como uma bênção
E ele trouxera uma cor aos meus dias
Que antes era imperceptível
Percebi que pode haver beleza num dia cinza
Que as tempestades podem ter seus encantos
Que estar só também é uma sabedoria
Sentia-me grande por estar leve
Sentia-me viva
Capaz de estar só
E quando necessário
Cuidava de minhas feridas
Tendo como aliados a leveza e o discernimento
Foi então que percebi que havia algo novo em meu encalço
E que eu não estava mais só
A vida me dava um presente
Era pegar ou largar
Ansiedade ou leveza?
Acorrentar ou voar?
Pressa ou deixar andar?
Agonia ou viver em paz um dia de cada vez?
As respostas saltitavam diante de mim
Foi quando eu compreendi
E despretensiosamente abri o pacote
Lá dentro, surpreendentemente, uma embarcação
Esperava por mim pronta para zarpar
Eu apenas sorri e embarquei sem olhar para trás
Pois afinal, naquele dia eu havia conquistado o mar



Ana Mascarenhas – 03/07/2011