sábado, 30 de abril de 2011

VERDADE RASCANTE
  

Um compasso que já foi
Uma lacuna
Algumas reticências
Compreender
Sentir
Pulsar
Ainda que de longe
É o que desejo
Nada de agonias ou anseios
Um pacto perene
De verdades
Às vezes rascantes
Como um silêncio sem brisa
Ou um luar sem noite
Escolho sempre a verdade
Ainda que doída
Doida sou eu por querer
Que a verdade seja-me dita?
Insana sou eu por querer viver
Essa verdade desmedida?
Que às vezes raspa, arde e arranha
Evocando fantasmas e medos
Mas que na maioria das vezes me faz tocar o céu
Levando-me a dançar com o silêncio
A verdade ora machuca, ora acaricia
A dor faz parte do arriscar-se
Porém, enquanto estiver mais acariciando que doendo
Significa que ainda está valendo à pena
Isto é o que sinto agora e quero sim, continuar arriscando-me
Pois dentro da verdade, existe um mar de possibilidades
E eu, que tenho um grande fascínio pelo mar, quero conhecer de perto, cada uma delas.



Ana Mascarenhas 01/05/2011






quinta-feira, 28 de abril de 2011

São Gonçalo


As águas do São Gonçalo têm de fato um poder reparador, pelo menos no que se refere a mim. Saí em busca de algo que apaziguasse alguns desassossegos que me atormentam nos últimos dias e fui absolutamente feliz na escolha do lugar.
Sentei-me embaixo da velha figueira, com meu livro, meu chimarrão e alguns cigarros. Não li uma linha sequer. Entre mates e cigarros fiquei completamente absorvida pela energia daquele lugar. Na beira do cais haviam vários barcos atracados e eu. Do outro lado do canal, uma linda garça fazia parte daquela paisagem. Estávamos frente a frente e ainda que separadas pelas águas, nos observávamos. Quando cheguei, ainda havia sol. Aos poucos a tarde foi caindo e o céu foi pincelado com uma tinta vermelho alaranjada que dava a ele um toque ainda mais especial. Acendi um cigarro, caminhei até a ponta de um dos trapiches e deixei meu pensamento navegar pelo fluxo daquelas águas.
Por alguns minutos, minha mente conseguiu esvaziar-se, e naquele momento só existiam as águas, o canto dos pássaros e aqueles rabiscos pincelados no céu. A noite caíra, e a ponte se acendeu. Que linda fica a ponte iluminada! Foi como se em mim, algo também se acendesse, algo que há dias estava apagado. Uma vontade de ir adiante, um lampejo de acreditar, um sopro de paz, sei lá. Foi bom! Do outro lado da figueira há outro trapiche.Vou até lá pra despedir-me e agradecer por tamanha acolhida. Saí como quem sai da casa de um velho amigo, refeita, amparada e sabendo que posso voltar sempre que quiser. E quero sim. Pois é muito bom saber que desde hoje, tenho no São Gonçalo, um refúgio.




Ana Mascarenhas – 28/04/2011

UMA BRISA NO MEIO DA TEMPESTADE

Não quero amarguras
Nem autocomiseração
Nem indiferença
Quero respeito
Consideração
Poesia
Não quero palavras ditas por dizer
Nem promessas que não se cumpram
Não quero nada além do que me cabe
Quero ganhar a vida
Dignidade
Poesia
Não quero descaso
Nem futilidade
Nem dissimulação
Quero colo
Poesia
E sensibilidade
Não quero nada que me raspe
Nada que me doa
Nem nada que me torne fria
Quero acreditar
Quero música
Quero poesia
Não quero amarras
Nem obviedades
Nem nada de exageros
Quero ser eu mesma
Um bom vinho
E a corda bamba da verdade
Não quero a sensação do vazio
Nem a de acomodar-me no caos
Quero perseverança
Poesia
E uma brisa que me abrace
No meio da tempestade



Ana Mascarenhas – 28/04/2011



quarta-feira, 27 de abril de 2011

ALHOS COM BUGALHOS



Parece que tudo está fora do lugar
E não encontro o lugar onde colocar esse tudo
Alojam-se dentro de mim
Coisas que deveriam estar
Em lugares tais como:
Comida na mesa, contas pagas, filho em baixo da minha asa
Levantar, trabalhar, ganhar o pão de cada dia
Fazer a manutenção básica da casa
Vidros que quebram, quartos que chovem, paredes que descascam
Fazer feira uma vez por semana
Alfaces, flores, abacates
Alho, muito alho, pois preciso garantir aquela massa alho e óleo
Que faz tanta gente feliz!
Um arroz com cebola bem fritinha
E porque não alguma carne?
Alface, muita alface! Alface de entrada
Alface de sobremesa, alface na hora do filme
E depois um cigarrinho com muito queijo ralado
Opa, o queijo ralado é na massa
E não no cigarrinho, mas enfim
A ordem dos fatores, não altera o produto
Feijão? Sim, fumo com farinha.
Opa quis dizer, como com farinha
O cigarro? Não, não, o feijão!
Mas que confusão! É isso que dá tanta coisa fora do lugar
Fico até me atrapalhando com as palavras
Misturando alhos com bugalhos
Queijos com cigarros
Dignidade com consideração
Mas não dá nada não
Não há um ditado que diz que depois da tempestade
Vem a bonança?
Então! 
Ela certamente está por vir
E quando vier, por certo me abarcará
Enquanto isso, um “alhozinho” aqui
Um “óleozinho” ali
Um “queijinho” acolá
E vamos comendo essa “massinha”!



Ana Mascarenhas - 27/04/11
Eu, acompanhada por Ricardo Fragoso, meu grande parceiro e Davi Batuca, grande percussionista. Abertura da festa da Helô, em comemoração ao dia internacional da mulher. Dia 08 de março de 2008. É, faz tempo, mas tava bem bom!

sábado, 23 de abril de 2011

RIBALTA



Chamo-te pro entardecer
Sem rubor ou constrangimento
Um entardecer no outono
Cai como uma luva
Sobre nós
Sinto-me inteira
Sendo o que sou
Sem dissimulações
Estou exposta
Meu sentimento está descortinado
Sob a ribalta
É um sentimento bonito
Que não me tira do foco
Eu não vivo pra ti
Nem por ti
Tu não és a ribalta
Nem eu a mariposa
Vivo pra sentir todas as coisas
Que a vida me sugere
Não se foge de um pulsar da vida
Não há do que esconder-se
Quando tudo se traduz em verdade
Sinto orgulho de ser alguém
Que não encobre o que sente
Gosto de sentir o que sinto
Gosto de escrever o que sinto
Gosto de dizer o que sinto
E sinto sim, sinto muito
Por aqueles que precisam jogar com o que sentem
Eu, nunca fui boa jogadora
Eu, simplesmente sinto
Do tamanho que sou capaz de sentir
Que é tão grande que nem eu mesma
Sou capaz de mensurar


Ana Mascarenhas -23/04/11


BRASAS


Não é preciso dizer nada
Tudo é perceptível
Uma calma em brasa
De uma brisa rara
Que nos joga no vento
E nos une em alma
Almas sedentas
De um querer
Que não se esgota
Que se regenera
A cada ausência
Que rejuvenesce
A cada mergulho
Que se agiganta
A cada sutileza
Que incandesce
A cada olhar
Fogueira sempre acesa
De nossas sábias vontades
Que sabem
Que apesar de toda essa plenitude
Nós temos a grandeza
De compreender
Que não somos um só


Ana Mascarenhas – 23/04/2011











sexta-feira, 22 de abril de 2011

Nascedouro de um cantar

Sinto o gosto do vinho descendo lentamente pela garganta
Enquanto surgem as palavras que antes estavam presas
O chão se abre
Estou soterrada
Avalanche de dúvidas
Medos
Inseguranças
Sensação de que tudo está por um fio
A vida me sorrindo de um lado
E de outro a realidade da vida metendo o dedo na minha cara
Como quem diz
E agora?
Vai lá
Da conta de tudo
Reage
Não chora
Não esmorece
Canta!
Não sucumbe entre os escombros
Levanta
Busca o ar
Respira
Não tenha medo
Apenas canta!
Não anda pelos descaminhos
Nem te contenta com linhas sempre retas
Degusta as surpresas das curvas
E as nuances dos caminhos desconhecidos
Ao soar do violão
Deixa inquietar a alma de forma que o coração cante
Olhos semicerrados
E um viajar além da porta que se fecha
Sente o momento
Apenas ouve o que a vida entoa
Foi o que fiz
Fiquei em silêncio
Ouvindo a vida cantar
Do vinho, não tomei o último gole
Da vida, ainda sinto sede
Do fim, não desejo a morte
E do meu cantar, ainda quero beber muito mais


 Ana Mascarenhas - 22/04/2011



























segunda-feira, 18 de abril de 2011

Janete Flores, e seu Patrimônio Popular!

Belo samba desta grande compositora que canta com o coração!
Música que faz parte do cd Retina que acaba de ser gravado no Studio 53 em Pelotas!
Muitas participações de pessoas que sentem orgulho de fazer parte de um trabalho dessa grandeza.
Grandeza de alma!
De minha parte, obrigada Janete Flores!

domingo, 17 de abril de 2011

Música: Egbert Parada
Letra: Ana Mascarenhas
Piano: Eduardo Varella

quarta-feira, 13 de abril de 2011

DESESPERO EM PAZ

Nunca fui tão fundo em algo em minha vida
Falo de um ir fundo que transborda em desespero
Mas não aquele desespero desesperado
Que faz sofrer
Falo de um desespero que vem do abismo da alma
De um desespero que se atreve em querer mais
Falo de um desespero que rasga as entranhas
E faz falar o corpo
Um desespero que ri e chora ao mesmo tempo
Mas não chora de dor e sim de contentamento
Falo de um desespero que passeia entre a sanidade e a loucura
Um desespero que arranha e acaricia
Deixando marcas que o tempo até encobre
Mas não tem força pra apagar
Um desespero que permeia o arrefecer e o incendiar
O mar e o deserto
Falo de um desespero que beira a mansidão
E falo, se é que isso existe
De um desespero que singra lentamente as profundezas de um querer
Que eu ainda não conhecia
E que acaba por revelar os meus sentidos mais arraigados
Não há mais como acalmá-los
Pois de mim, a cada mergulho, verte uma paz que desesperadamente
Não tem fim, uma paz que o desespero não sacia.



Ana Mascarenhas - 13/04/2011

sábado, 9 de abril de 2011

LABIRINTOS DE MIM
 
É hora de parar um pouco e olhar pra dentro de mim. Nos últimos dias tudo se bagunçou aqui por dentro. Me vi acuada quando acordei no meio da noite com intuições. Não quero intuir nada. Não gosto dessas sensações que revelam coisas que escolhi não saber. Levanto, fumo um cigarro, tomo um chá, escrevo. Escrever sempre ajuda. Escrever me esvazia dessas sensações que tomam conta dos meus labirintos.
Fecho os olhos e ando por eles percebendo o que se esconde em cada canto. Quando se sabe o que é e onde está, fica mais fácil compreender de onde vêm tais pressentimentos. Depois de compreendido é hora de detê-los, e é o que faço enquanto o papel vai absorvendo cada sombra, cada curva, cada palavra guardada nos labirintos de mim.
Mais um cigarro e tudo vai amanhecendo nos meus arredores. Eu amanheço, o dia amanhece e as sensações já não estão em mim. Ficou tudo no papel. Me sinto leve. Meus labirintos estão vazios outra vez, estão livres desses sentimentos que moraram ali por tanto tempo. Hoje já não moram mais. Hoje só aparecem quando me perco nos caminhos da alma e felizmente isso acontece cada vez com menos intensidade. Pois afinal de contas, além de ser uma mulher de muitas sensibilidades, sou uma mulher de muitos neurônios e com certeza é isso que sempre me traz de volta ao equilíbrio. Ainda bem!
  

Ana Mascarenhas - 09/04/11

quarta-feira, 6 de abril de 2011


GOTAS DE SILÊNCIO

Uma serenidade sem modorra
Uma paz que rasga a alma
Uma eternidade que pode durar um só instante
Tua voz rascante e grave
Um arrepio que me entrega
Uma distância que provoca
Um olhar que não cala
Tal qual um rio que não seca
Ou uma chuva mansa que não pára
Uma saudade que repousa
Uma inspiração que não estanca
Um descansar teu no meu abraço
Que foi suave como o sol quando desponta
Não me assusta o ontem que ja foi
Nem as cortinas fechadas do amanhã
Arrisco-me serenamente nos trapézios do hoje
Com sensatez
Pois um passo em falso pode ser fatal


Ana Mascarenhas - 06/04/11